Formado por cinco mulheres, grupo musical prepara CD e retoma temporada ‘segunda mulher’ em descolada casa noturna de Cuiabá.
Se as palavras tivessem som, ninguém chegaria ao fim destas linhas, porque os sons aqui descritos encantariam ao ponto do leitor fechar os olhos e começar a balançar a cabeça de um lado para o outro, dançando no compasso das músicas e perdendo a noção do tempo. Bocas que não calam, pés que batem para acompanhar o ritmo, sons com as bocas e gingados com os instrumentos. Assim é o ensaio do Bionne, grupo formado por cinco mulheres que tocam e cantam o choro e o samba. Sim, choro e não chorinho, pois como disse Josemeri Crispim, violão de seis cordas, “por acaso samba é sambinha, então por que choro tem que ser chorinho”.
A banda é composta por mulheres que, além de apaixonadas por música, são dedicadas e estudiosas, e buscam o aperfeiçoamento do trabalho para levar ao público interpretações novas e autênticas de conceituados gêneros da música popular brasileira. Segundo Tamara Secotti, flauta transversal, “hoje nós estamos focando mais no choro e no samba, acho que por uma consciência musical”, para Josemeri, “nós fomos nos apaixonando, Kátia Mendes(voz e violão), por exemplo, fez a sua monografia sobre o choro cuiabano, Tamara sobre Chiquinha, e foi assim cada uma ia trazendo uma composição e outra e quando vimos o samba e o choro estavam dominando o repertório”. No início segundo Grazielle Louzada, sax soprano e tenor, “a gente achava que tinha que tocar o que a gente gostava e cada uma gostava de uma coisa diferente e abraçávamos o mundo, hoje não estamos buscando especializar no samba e no choro”.
A Bionne ganhou recentemente uma nova integrante. A banda iniciou com Andréa Rosa no cavaquinho, Grazielle Louzada no saxofone, Kátia Mendes na voz e percussão, Josemere Crispim no violão de seis cordas, Tamara Secotti na flauta transversal e a nova dama, Kalinca Nunes na percussão. Estudantes ou formadas em música, fazem desta arte trabalho sério.
Estão em sua terceira temporada com o show que ocorre todas as segundas-feiras no bar e choperia Tom Choppin: "Segunda Mulher". É um show de chorinho e samba que a Bionne apresentou durante o ano de 2007 com muito sucesso. Para 2008, algumas novidades foram acrescentadas ao repertório, além de contar sempre com a participação do público fiel que também ajuda na hora de selecionar as músicas que entrarão para a apresentação. O público, aliás, é componente essencial para o show. "Parece missa, até 15 minutos antes do show não tem ninguém, é só dar nove horas que lota o bar", comenta Josemeri.
Durante o ensaio uma música que aponta um novo caminho, um choro que tivemos o prazer de ouvir em primeiríssima mão juntamente com algumas integrantes do grupo e que inclusive foi batizado ali, na hora: “Choro para Giovanna”, filha da compositora Josemeri. O ano promete e as meninas biônicas pretendem gravar do primeiro CD do grupo, que deve trazer regravações, músicas inéditas e de composição própria do grupo. As meninas também planejam um show especial para comemorar os quatro anos do Bionne, que deverá acontecer no segundo semestre. O grupo também dará andamento a apresentações esporádicas e aos shows mensais no Sesc Pantanal, segundo elas está quase tudo certo.
Nestes quatro anos de trajetória, a banda já fez de tudo um pouco. Passou por diversas casa noturnas de Cuiabá e do interior, participou do Festival de Praia de Barra do Garças e de três festivais de inverno na Chapada dos Guimarães.
História musical
O começo foi um tanto inusitado. Participantes do grupo de Choro da Universidade federal de Mato Grosso, as meninas começaram a perceber que era preciso se unir mais, uma vez que os garotos participantes do grupo estavam formando uma banda paralela somente de garotos. Daí surgiu a idéia de montar um grupo de samba e choro formado só por mulheres.
Após uma apresentação na UFMT, surgiu o convite para participarem de uma festa de amigos. Elas toparam, mas precisavam de um nome para a banda. Foi aí que, em meio a um ensaio, o produtor da festa liga cobrando o nome para divulgação e Josemeri bate o olho na partitura e lê o nome da música que tocava, “Bionne”. Somente depois veio a referência de ser uma composição de Chiquinha Gonzaga, precursora da música no Brasil e uma das maiores influências do grupo.
Nomeada a banda, chega o dia da apresentação, uma festa um tanto diferente para as meninas. Mas trabalho é trabalho e o sucesso foi conseqüência. Detalhe: era uma festa de música eletrônica e dia do aniversário da flautista, Tamara. “Foi muito estranho, tocamos e fomos embora, achamos quer iam jogar tomate na gente”, se diverte Josemeri. Desde então, muitos convites foram surgindo e a banda começou a crescer musicalmente e ser reconhecida pelo público. Foi então que as meninas resolveram delimitar melhor o que ofereceriam e a que se dedicariam. "Buscamos o antigo, o que ninguém faz, mas sempre dentro do samba e do chorinho", explica Andréa Rosa.
De lá para cá, muitas coisas vêm sendo desenvolvidas para expandir mais o trabalho e divulgar ao público mato-grossense a existência de um grupo diferente e de qualidade musical. Com mulheres que entendem e sabem como fazer música. Uma coisa é certa elas têm fome de música e não pretendem para de estudar o que faz com que o show da semana passada seja sempre superado pela semana seguinte para alegria dos boêmios e dos apaixonados pela boa música.
Claudio Oliveira
Diário de Cuiabá (Da Reportagem)
Fonte: www.diariodecuiabá.com.br
Bionne, samba e choro